Manifesto dos economistas pelo desenvolvimento e pela inclusão social
A
campanha eleitoral robusteceu a democracia brasileira através do debate
franco sobre os rumos da Nação. Dois projetos disputaram o segundo
turno da eleição presidencial. Venceu a proposta que uniu partidos e
movimentos sociais favoráveis ao desenvolvimento econômico com
redistribuição de renda e inclusão social. A maioria da população
brasileira rejeitou o retrocesso às políticas que afetam negativamente a
vida dos trabalhadores e seus direitos sociais.
É
de se esperar que o pluralismo de opiniões fortaleça nossa democracia
depois da pugna eleitoral. Desde 26 de outubro, contudo, a difusão de
ideias deu a impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e
nas propostas para os graves problemas da sociedade e da economia
brasileira. Sem o contraponto propiciado pela campanha e pelo horário
eleitoral gratuito, os meios de comunicação propagaram quase
exclusivamente a opinião que a austeridade fiscal e monetária é a única
via para resolver nossos problemas.
Isto
vai na contramão da opinião de economistas de diferentes matizes no
Brasil, mas reverbera o jogral dos porta-vozes do mercado financeiro.
Estes defendem solucionar a desaceleração com a “credibilidade” da
adesão do governo à austeridade fiscal e monetária, exigindo juros mais
altos e maior destinação de impostos para o pagamento da dívida pública,
ao invés de devolvê-los na forma de transferências sociais, serviços e
investimentos públicos.
Subscrevemos
que este tipo de austeridade é inócuo para retomar o crescimento e para
combater a inflação em uma economia que sofre a ameaça de recessão
prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento. O reforço da
austeridade fiscal e monetária deprimiria o consumo das famílias e os
investimentos privados, levando a um círculo vicioso de desaceleração ou
mesmo queda na arrecadação tributária, menor crescimento econômico e
maior carga da dívida pública líquida na renda nacional.
Entendemos
que é fundamental preservar a estabilidade da moeda. Também somos
favoráveis à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de
recursos tributários: este tipo de austeridade, sim, denota espírito
público e será sempre desejável. Rejeitamos, porém, o discurso dos
porta-vozes do mercado financeiro que chama de “inflacionário” o gasto
social e o investimento público em qualquer fase do ciclo econômico.
Tampouco
compreendemos o argumento que associa a inflação ao gasto público
representado por desonerações que reduzem custos tributários e subsídios
creditícios que reduzem custos financeiros. A inflação, aliás,
manteve-se dentro da meta no governo Dilma Rousseff a despeito de
notáveis choques de custos como a correção cambial, o encarecimento da
energia elétrica e a inflação de commodities no mercado internacional.
A
austeridade agravou a recessão, o desemprego, a desigualdade e o
problema fiscal nos países desenvolvidos mesmo tendo sido acompanhada
por juros reais baixíssimos e desvalorização cambial. No Brasil, a
apreciação cambial estimulada por juros reais altos aumenta o risco de
recessão, ao acentuar a avalanche de importações que contribui para
nosso baixo crescimento.
É
essencial manter taxas de juros reais em níveis baixos e anunciar
publicamente um regime fiscal comprometido com a retomada do
crescimento, adiando iniciativas contracionistas, se necessárias, para
quando a economia voltar a crescer. A atual proporção da dívida pública
líquida na renda nacional não é preocupante em qualquer comparação
internacional.
O
que nos preocupa é a possibilidade de recessão e a carência de bens
públicos e infraestrutura social reclamada pela população brasileira.
Atendê-la não é apenas um compromisso político em nome da inclusão
social, é também uma fronteira de desenvolvimento, estímulo ao
crescimento da economia e em seguida da própria arrecadação tributária.
Esta
opinião divergente expressa por parte importante dos economistas
brasileiros não pode ser silenciada pela defesa acrítica da austeridade,
como se o mantra que a louva representasse um pensamento único,
técnico, neutro e competente. Um dos vocalizadores desse mantra chegou a
afirmar que um segundo governo Dilma Rousseff só seria levado a
caminhar em direção à austeridade sob pressão substancial do mercado, o
que chamou de "pragmatismo sob coação". Esperamos contribuir para que os
meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade
sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate
econômico em nossa democracia.
Maria da Conceição Tavares (UFRJ)
Luiz Gonzaga Belluzzo (UNICAMP e FACAMP)
Ricardo Bielschowsky (UFRJ)
Marcio Pochmann (UNICAMP)
Pedro Paulo Zahluth Bastos (UNICAMP)
Rosa Maria Marques (PUC-SP)
Alfredo Saad-Filho (SOAS - Universidade de Londres)
João Sicsú (UFRJ)
Maria de Lourdes Mollo (UNB)
Antonio Prado (Secretário Adjunto – CEPAL)
Vanessa Petrelli Corrêa (UFU)
Carlos Pinkusfeld Bastos (UFRJ)
Alexandre de Freitas Barbosa (USP)
Lena Lavinas (UFRJ)
Luiz Fernando de Paula (UERJ)
Hildete Pereira Melo (UFF)
Niemeyer Almeida Filho (UFU)
Frederico Gonzaga Jayme Jr. (UFMG)
Jorge Mattoso (UNICAMP)
Carlos Frederico Leão Rocha (UFRJ)
Rubens Sawaya (PUC-SP)
Fernando Mattos (UFF)
Pedro Rossi (UNICAMP)
Jennifer Hermann (UFRJ)
André Biancarelli (UNICAMP)
Bruno De Conti (UNICAMP)
Julia Braga (UFF)
Ricardo Summa (UFRJ)
Frederico Katz (UFPE)
Cristina Fróes Borja Reis (UFABC)
Luiz Carlos Delorme Prado (UFRJ)
Fernando Sarti (UNICAMP)
Ramon Garcia Fernandez (UFABC)
José Porfiro da Silva (UFAC)
José Eduardo Roselino (UFSCAR)
Eduardo Fagnani (UNICAMP)
Danilo Araújo Fernandes (UFPA)
Ana Rosa Ribeiro Mendonça (UNICAMP)
Antonio Prado (Secretário Adjunto – CEPAL)
Gilberto Libanio (UFMG)
José Rubens Damas Garlipp (UFU)
Angela Ganem (UFRJ)
Clésio Lourenço Xavier (UFU)
Alcides Goularti Filho (UNESC)
Ana Paula Sobreira Bezerra (UFPE/CAA)
Cláudia Alessandra Tessari (UNIFESP)
Luiz Augusto Estrella Faria (UFRGS)
Gustavo Figueiredo Campolina Diniz (UFMG)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.